Biomarcadores vocais podem ser indicadores do estado de saúde mental

Uma ferramenta integrada a celulares que rastreia o estado de saúde mental detectando alterações na voz pode complementar as avaliações psiquiátricas tradicionais e melhorar a capacidade de um indivíduo automonitorar sintomas depressivos e outros relacionados à saúde mental, sugeriu uma nova pesquisa.

Os pesquisadores usaram o algoritmo de pontuação Mental Fitness Vocal Biomarker (MFVB), que é incorporado a um aplicativo de registro de voz em celulares, para detectar variações no risco de gravidade elevada de sintomas relacionados à saúde mental. O método consiste na análise de gravações de voz espontâneas de 30 segundos para identificar padrões vocais específicos previamente associados à saúde mental. Uma comparação entre as pontuações do MFVB e as avaliações de psiquiatria clínica comumente utilizadas revelou uma correlação estatisticamente significativa, observaram os pesquisadores.

“Embora a ferramenta com o MFVB não se destine a diagnosticar ou tratar doenças psiquiátricas, estes achados fornecem uma base inicial robusta, que permite explorar ainda mais o potencial de acompanhamento personalizado do bem-estar dos pacientes. Até o momento, não fomos capazes de aplicar aferições utilizadas na saúde física para a avaliação da saúde mental”, descreveram os pesquisadores, liderados pelo Dr. Erik Larsen, Ph.D., do sistema de saúde Sonde Health, com sede em Boston nos Estados Unidos, que criou a ferramenta. O estudo foi publicado on-line em 05 de março no periódico Frontiers in Psychiatry.

Oito recursos vocais – O potencial dos biomarcadores vocais para avaliação da saúde mental tem recebido cada vez mais atenção. “Indivíduos deprimidos geralmente apresentam uma comunicação mais monótona; pode haver menos inflexão na voz, fala mais lenta e com menos energia, características que podem ser reconhecidas nas gravações”, afirmou o pesquisador ao Medscape. “Esta é uma área que tem sido alvo de muitas pesquisas nas últimas décadas, visando entender quais aspectos específicos da acústica e do ritmo da fala poderiam apontar para doenças como a depressão”, continuou ele. Neste estudo, os pesquisadores decidiram validar a capacidade da plataforma do MFVB para detectar sintomas relacionados à saúde mental.

Os usuários registraram seus pensamentos e sentimentos em um diário de voz de 30 segundos. A ferramenta analisou as gravações de oito características vocais anteriormente comprovadas como relevantes para a saúde mental: nervosismo ao falar, leve instabilidade na voz (que fica trêmula), variabilidade de tom, variabilidade de energia, espaço vocálico, duração da fonação, velocidade de fala e duração da pausa. A ferramenta calculou a pontuação do MFVB em tempo real, que varia de 0 a 100. Uma pontuação de 80 a 100 foi definida como “excelente”; de 70 a 79 como “boa”; e de 0 a 69 foi categorizada como “pontuação de alerta”. A ferramenta foi concebida a partir de mais de um milhão de amostras de voz, a fim de otimizar o desempenho em diversos idiomas, culturas e grupos socioeconômicos.

O estudo recrutou 104 pacientes psiquiátricos ambulatoriais (73% eram mulheres) com diagnósticos relacionados a ansiedade, eventos traumáticos e transtornos relacionados ao estresse ou depressivos. A coorte era composta principalmente por jovens adultos brancos e não hispânicos. Foram excluídos pacientes com histórico de abuso de substâncias ou que estivessem em uso de psicotrópicos que pudessem afetar a voz e a fala. Durante o período de quatro semanas do estudo, os participantes realizaram 1.336 gravações de voz com o aplicativo, resultando em uma média de 12,8 gravações por participante, ou 3,2 por semana. As pontuações do MFVB foram cruzadas com os resultados dos participantes na M3 Checklist, uma ferramenta de avaliação de saúde mental clinicamente validada.

Os pesquisadores constataram que, durante duas semanas, os participantes apresentaram probabilidade duas vezes maior de relatar um aumento dos sintomas relacionados à saúde mental quando as suas pontuações do MFVB permaneceram na faixa “pontuação de alerta” versus na faixa “excelente”. O efeito foi mais pronunciado nos participantes que utilizaram o aplicativo com maior frequência, com eles tendo propensão 8,5 vezes maior de apresentar aumento dos sintomas. A correlação entre as pontuações do MFVB e as avaliações de saúde mental estabelecidas foi “não apenas estatisticamente significativa, mas também apresentou relevância concreta para os participantes”, registraram os pesquisadores. Análises de subgrupos sugeriram que o aplicativo funcionou melhor para depressão e transtornos relacionados ao estresse e a eventos traumáticos.

A ferramenta fornece aos pacientes psiquiátricos ambulatoriais “retorno quantitativo imediato sobre a gravidade dos sintomas relacionados à saúde mental”, observaram os pesquisadores. No artigo, eles alertam que os resultados destacam a “capacidade global” das categorias da pontuação do MFVB em diferenciar os níveis de gravidade dos sintomas relacionados à saúde mental; porém, não distinguem quais tipos de sintomas, como depressão, ansiedade ou transtorno de estresse pós-traumático.

Em um comunicado, a Dra. Lindsey Venesky, Ph.D., pesquisadora do estudo, psicóloga e diretora clínica do Cognitive Behavior Institute em Pittsburgh, nos EUA, observou que a capacidade de coletar dados de saúde mental de pacientes no período entre consultas “poderia transformar a forma como monitoramos os sintomas e otimizamos os planos terapêuticos”. “A tecnologia (com base em voz) de rastreamento de questões relacionadas à saúde pode fornecer percepções precisas sobre o estado de saúde mental de um paciente ao longo do tempo e pode fazer isso de forma contínua e discreta, com pouco ônus adicional aos pacientes”, afirmou ela.

Necessidade de replicação e validação – Comentando sobre os achados para o Medscape, o Dr. John Torous, médico e diretor da Divisão de Psiquiatria Digital do Beth Israel Deaconess Medical Center, nos EUA, observou que “nos últimos 20 anos, tem havido muito interesse em biomarcadores vocais, mas de alguma forma a pesquisa nunca se traduziu em cuidados clínicos convencionais”. Os biomarcadores vocais são “relevantes e têm potencial” para o cuidado com a saúde mental, observou ele. Os achados deste estudo são “interessantes, mas precisam ser profundamente replicados externamente e validados para confirmar que esses biomarcadores são válidos e confiáveis”, acrescentou.

As alterações na voz fazem parte do exame do estado mental, continuou o Dr. John, “mas é apenas uma das informações que coletamos em uma avaliação clínica com muitos dados”. O médico também alertou que “como psiquiatra praticante, pode ser complicado receber novos dados se você não souber como interpretá-los ou não compreender o que significam. Um passo importante seria promover a educação, a divulgação e fornecer os recursos para que os médicos aprendam sobre potenciais biomarcadores vocais”.

Fonte: Medscape

‘‘E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo.’’ 1 Timóteo 1:14 (para entender, clique aqui, assista ao vídeo e se surpreenda)

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